Investidor, Aqui Foi Onde Você Errou


Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 26/03/2020

Errar é tão humano quanto persistir no erro. No caso dos investimentos financeiros, além da complexidade de cada uma das classes de ativos, fatores comportamentais e psicológicos aliados à baixa educação financeira trazem enormes decepções em momentos nos quais os mercados agitados derrubam os preços dos ativos no curto prazo. Seguem 12 dos erros mais comuns do investidor de ontem, de hoje e do futuro (tranquilo, se você não cometeu ainda vai cair num deles)


  1. Não ter uma reserva de emergência e não formar uma antes de começar a diversificar: Reserva de liquidez ou emergência são valores que devem estar separados do resto da carteira e que garantam liquidez em momentos de crise. Devem estar alocados de forma que fiquem à prova de bala, como fundos de investimento lastreados por títulos públicos de curto prazo ou mesmo comprando diretamente estes títulos. Devem render pouco (taxa básica de juros) e prover no mínimo de 6 a 12 meses dos gastos básicos do investidor (ou sua família). Nenhum investidor deveria alocar em outros ativos antes de ter feito a sua reserva de emergência. Não tê-la bem formada faz com que o pânico momentos de crise se acentue. Este conceito serve para todo tipo de investidor, não importa o tamanho do seu patrimônio.

  2. Medir a rentabilidade mensalmente: Este erro é também cometido pela maioria dos profissionais de investimento e incentivado por algumas instituições. Já vi grandes casas anunciando com toda pompa e circunstância que seus fundos multimercado (para médio prazo) tiveram nos últimos 3 meses uma excelente rentabilidade. Isto contribui para ainda persistir entre os investidores pouco orientados o mito do 1% ao mês. Independentemente do perfil do investidor, o que importa é o ganho real, ou seja, rentabilidade líquida de impostos e da inflação. Sem este dado, não é possível estabelecer valores para reserva futura de aposentadoria, por exemplo. Dá um pouco mais de trabalho de calcular, mas é a forma exata de medir o desempenho de uma carteira. De quebra, obriga ao investidor a olhar para seus recursos com prazos mais longos, o que vai lhe beneficiar.

  3. Usar o CDI como benchmarck: % do CDI não quer dizer nada. Esta é uma herança do mercado de investimentos do Brasil, ainda muito concentrado em bancos de varejo. Faz com que dados importantes sejam tratados de baciada, ou seja, numa linguagem muito simples que qualquer um entende. Mas que diz muito pouco. O CDI segue lado a lado a SELIC, a taxa básica de juros da economia brasileira. Ocorre que a SELIC é cíclica, além de muito instável é o instrumento que o Conselho Monetário Nacional tem, via Banco Central, de controlar a inflação. Pior ainda quando um fundo ou carteiras de ações são medidos olhando o CDI. É o mesmo que medir a distância entre a sua casa e o restaurante em número de carros. Faz sentido? Não, não faz. Assim como no erro anterior, usar o ganho real seria a melhor forma quando se tratar de carteiras.

  4. Querer ganhos mensais sem precisar tê-los: A única situação na qual o investidor precisa de rendimentos mensais é quando não está mais economicamente ativo e sua carteira é sua fonte de rendimentos, parcial ou totalmente. Do contrário, se o investidor estiver na fase de acumulação, uma vez constituída sua reserva de emergência, é hora de se preocupar com o médio e longo prazo. O tempo é o melhor amigo das grandes oportunidades. Renda fixa só faz sentido para quem precisa de RENDA, do contrário é pura perda de oportunidades. Dada a preferência do investidor por este tipo de papel, por vezes as taxas oferecidas não correspondem ao real risco do papel (prêmio de risco).

  5. Ignorar o real significado de diversificação: Diversificar significa ter o patrimônio alocado em ativos distintos, expostos a diferentes estratégias e com baixa correlação entre si, preferencialmente explorando diferentes mercados. O que se vê é o investidor que tem conta em várias corretoras e alguns bancos, em todos eles mantendo pequenas porções da carteira. Quando vamos olhar as carteiras, estão alocadas nos mesmos ativos, pagando taxas de administração diferentes e expostos às mesmas dinâmicas de mercado (mesma estratégias). Além de não conseguir apurar de forma precisa o desempenho da carteira, não consegue medir o risco.

  6. Negociar ativos atraídos pelo baixo custo das operações, como (mini) contratos futuros ou Fundos Imobiliários: Há ativos negociados nas bolsas de valores (à vista no caso de fundos imobiliários e futuros no caso de mini-contratos – derivativos) que oferecem custo de operação muito baixo ou mesmo isento. Para exemplificar, mini-contratos de dólar custam não mais que R$ 2 por mini-contrato e na maioria das corretoras não há taxa de corretagem para fundos imobiliários. O problema é que o investidor não tem claro no que está alocando. No caso dos mini-contratos, TODAS as vezes nas quais perguntei a investidores se sabia qual era o tamanho da sua exposição a resposta era negativa. Sem saber, o investidor havia comprado o suficiente para tomar ajustes de USD 500.000 (50 mini-contratos) diariamente. Já quanto aos fundos imobiliários, o principal problema é o completo desconhecimento da composição das carteiras do fundo (imóveis, papéis e etc) e a baixa liquidez que o ativo oferece quando comparado, por exemplo, às ações.

  7. Tentar achar o momento certo de entrar em fundos de investimento: O investidor que faz isso não conhece bem a dinâmica deste tipo de ativo. Diariamente as equipes de gestão se reúnem e observam os mercados nos quais atuam. Têm suas estratégias, valores alvo, mecanismos de controle, objetivos de preço e etc. Tudo isto para buscar maximizar o resultado do fundo e ainda assim atender às necessidades normais de tesouraria (preocupação que os ETFs não precisam ter). São uma infinidade de variáveis que tornam o prever o melhor momento de entrada impossível. Além disso, no mercado brasileiro fundos com estratégias mais complexas costumam levar até 30 dias (em alguns casos até 180 dias) do momento no qual se solicita o saque até que este seja efetivado na conta do investidor.

  8. Tomar decisões baseadas na emoção: Boa parte da queda inicial no valor de ativos financeiros e commodities na crise do Covid-19 pode ser atribuída ao desespero do mercado. No Brasil e no mundo papéis de empresas muito sólidas estão sendo negociados abaixo do valor patrimonial, ainda que suas capacidades de geração de caixa e resultados sejam pouco afetadas. O S&P 500 VIX (índice que mede a volatilidade de papéis nas bolsas americanas) bateu recordes recentemente e está operando a níveis cerca de 5 vezes maiores que o habitual. É o humor de mercado. Muitos investidores, sem fundamento, desfazem-se de suas posições contribuindo para iniciar e acentuar o efeito manada. Há investidores vendendo ouro por preço de banana e com isso se auto infligindo perdas enormes.

  9. Comprar na alta, vender na baixa: Lembro de uma conversa com um amigo médico que se dizia extremamente machucado pela crise de 2008. Contava que começou a comprar Petrobras (PETR4) a cerca de 20 reais, continuou comprando até cerca de 38 e vendou por mais ou menos 15 em novembro de 2008. Ele sabia muito bem o preço e o tamanho do prejuízo, mas não conseguia explicar os fundamentos da empresa que o levaram a comprar, apenas dizia dos conhecidos que o haviam indicado. Excelente cirurgião plástico, péssimo investidor. Fazer as coisas sem orientação correta ou sem estudar fundamentos fatalmente levará a resultados ruins. O gráfico mostra a performance dos clientes da Richard Bernstein Advisorscomparado a benchmarks de vários mercados (2014).


10. Tentar ganhar dinheiro no curto prazo: Resposta rápida - é impossível. Reproduzo texto do artigo da Escola de Economia da FGV EESP (link aqui):“O levantamento de Fernando Chague e Bruno Giovannetti, ambos da Escola de Economia da FGV EESP, olhou especificamente para dois tipos de ativos típicos do day-trading – os contratos de mini dólar e mini índice – em meio aos dados da CVM, com informações entre 2012 e 2017. Dos quase 20 mil investidores pessoa física que começaram a comprar e vender mini índice entre 2013 e 2015, por exemplo, 92,1% desistiram da prática. E das 1.558 das pessoas que persistiram por mais de 300 pregões, 91% tiveram prejuízo. Mais: dos 9% que conseguiram algum com as operações, apenas 13 pessoas (menos de 1%) conseguiram lucro médio diário acima de R$ 300.” Estudo interno da Fidelity de 2014 (link aqui) mostra que as contas mais rentáveis eram aquelas pertencentes aos clientes falecidos e àqueles que haviam se esquecido de que tinham contas.


11. Imobilizar a carteira: Isto foi muito comum no Brasil das décadas de 60 a 90, período no qual predominava um mercado muito pouco sofisticado, imerso num ambiente de alta inflação e instabilidade política. O investidor buscava o que chamamos de ativos alternativos, como imóveis e terrenos e outros até mesmo exóticos, como veículos, linhas telefônicas, entre outros. A inflação e um ambiente super fechado (não devia em nada a qualquer economia socialista da época) faziam com que estes ativos conservassem satisfatoriamente seu valor. Hoje, há formas muito eficientes (pouco custosas e mais líquidas) de investidor em tijolo, como os Fundos Imobiliários. Imóveis são investimentos interessantes quando, por exemplo, consideramos a incorporação. Nas demais situações, cuidados devem ser tomados e fatores como custos agregados de manutenção, impostos, taxas e vacância (na caso de aluguéis).


12. 100% no Brasil: O investidor reclama, e com muita razão, das mazelas que nos afligem a todos. Mas na hora de guardar o dinheiro, a (quase) totalidade da carteira está aqui mesmo. O Brasil responde por 3% do PIB mundial e embora haja nos mercados internos os mesmos instrumentos e classe de ativos que nos melhores mercados do mundo, aqui carecemos de liquidez e variedade de opções. Além disso, o câmbio castiga carteiras locais com força. Investidores com posições internacionais têm melhores ganhos e estão mais protegidos seja pelo resultado cambial, quanto pelas oportunidades de diversificação ou possibilidade de pagar menos impostos sobre os ganhos quando utilizada uma estrutura offshore.


Denis G Coelho, CFP®