Investimentos Para Funcionários Públicos

Felipe M Passero, CFA, LinkedIn, 12/05/2020

Anos e anos de estudo e você hoje trabalha numa carreira onde a maioria das pessoas associa a estabilidade, alto poder aquisitivo e uma vida relativamente confortável.


Mas o serviço público por si só não é sinônimo de riqueza. Com o passar do tempo, muitos dos objetivos de vida precisam de esforço e disciplina para serem alcançados. Além disso, existem riscos específicos da vida financeira do servidor público que precisam ser observados.


Organizando seus objetivos


O primeiro passo antes de investir é estabelecer uma lista de prioridades, com prazos definidos. Você quer comprar um imóvel? Quer viajar todos os anos? Com quantos anos quer se aposentar? Qual o padrão de vida que você quer ter ao se aposentar? Quer fazer uma pós graduação, dar aulas em universidade? Coloque tudo isso num papel ou num bloco de notas, com os respectivos prazos. Quantos anos para cada objetivo? O que vem primeiro? O que é prioridade e qual você pode prescindir?


Identificação de riscos


As carreiras de estado estão frequentemente a riscos inerentes à profissão. Profissionais da área da saúde estão expostos a doenças graves, doenças infecciosas ou acidentes que podem incapacitar o exercício do trabalho. Como um cirurgião pode operar com uma lesão nas mãos? Caso seu cargo garanta uma licença de saúde, existem gastos eventuais para os quais você deve estar preparado.


Profissionais de segurança pública correm constante risco de vida e risco de acidentes de trabalho. Militares podem perder promoção caso sofram algum tipo de lesão e acabar indo para a reserva das forças armadas. Um policial federal pode sofrer de síndrome de Burnout.


Um diretor de estatal, um promotor ou um juiz pode sofrer algum tipo de lawfare. Cargos de responsabilidade na administração pública torna o servidor público um potencial alvo daquilo que os países de língua inglesa chamam de SLAPP, acrônimo de strategic lawsuit against public participation (ação judicial estratégica contra a participação pública). No ano passado virou notícia na mídia os 54 processos que Pedro Parente, ex presidente da Petrobrás, responde.


A carreira de prático de navegação é conhecida por ser uma função com boas perspectivas financeiras. Porém existe o risco de invalidez, que compromete toda a renda futura deste profissional.


Podemos resumir os riscos em: invalidez temporária, permanente, risco de morte dentro de um determinado período de tempo, comprometendo planos para os herdeiros, risco jurídico de responsabilidade civil e risco de doenças graves. Para todos estes riscos existem seguros. O servidor público deve listar os riscos e medir o quanto perderia/deixaria de ganhar caso cada um destes eventos aconteça.


Investindo com base em objetivos


Riscos e objetivos se inserem dentro de um horizonte de tempo. Existem seguros para cada um dos riscos elencados. Mas você deve procurar pagar o mínimo possível em seguros, e para isso deve analisar em conjunto com seus investimentos. O ideal é que você analise seus riscos com quem entende também de investimentos, para não gastar dinheiro desnecessariamente.


Organize seus objetivos numa matriz de importância versus tempo. Aqueles gastos imprescindíveis de curto prazo devem estar cobertos por investimentos em ativos conservadores, mesmo que tenham baixa rentabilidade. O dinheiro que você está juntando para a plástica do ano que vem deve estar em investimentos atrelados ao CDI. A sua aposentadoria daqui a 20 anos precisa estar em opções que rendam mais. Com o Brasil caminhando para os juros zero, não tem como se acomodar.


Investimentos arrojados são aqueles onde existe mais incerteza quanto ao resultado de curto prazo. Os conservadores são aqueles onde o resultado é mais previsível. Investimentos agressivos remuneram mais porque estão mais associados à economia real. Fundos de ações, fundos imobiliários investem em ativos reais. Se um empresário contrai uma dívida para fazer sua empresa funcionar, é porque ele espera que a remuneração sobre o capital investido seja maior que o custo da dívida. Do contrário, todas as empresas do mundo iriam à falência ou gastariam todo seu lucro operacional pagando dívida.


Mas é nos investimentos agressivos onde mora a incerteza de curto prazo. Nenhum dono de padaria sabe qual será seus lucro líquido da próxima semana. Mas ele sabe que em 2 ou 3 anos, o lucro dele será tal que terá justificado o investimento. Com empresas listadas em bolsa não é diferente. O mesmo se aplica a investimentos no exterior.


Cada carteira é uma carteira, porque cada um tem um objetivo e uma realidade diferente. Não invista em algo só porque seu amigo investe. A realidade dele pode ser diferente da sua. Uma boa carteira é aquela que diversifica os investimentos e atende a todos seus objetivos.


Previdência privada


Durante muito tempo, previdência privada foi sinônimo de altas taxas e da abusiva taxa de carregamento cobrada pelos bancos. Mas hoje existem bons fundos de investimento na versão previdência, conduzidos por gestores profissionais que antes só eram disponíveis para os clientes de patrimônio muito alto.


O servidor público pode deduzir seus aportes na previdência privada da base tributária do imposto de renda, mesmo aqueles que contribuem para planos de RPPS. Com o tempo, aquela parcela da renda que seria tributada em 27,5% passa a ser tributada em até 10%. Além de postergar o pagamento, o investidor rentabiliza e diminui a parcela paga para o leão. Em alguns estados os recursos de previdência são isentos de IR. Devem ser considerados na hora de fazer seguro de vida. Se você precisa de 800 mil reais nos próximos 15 anos para garantir a educação dos seus filhos, você deve deduzir a parcela que está sendo investida em previdência privada.


Conclusão


A reforma da previdência trouxe novos desafios para o planejamento de aposentadoria dos servidores públicos. Cada carreira tem sua particularidade. Invista com consciência, mas não deixe de aproveitar seu dia a dia. Com organização e disciplina é possível chegar lá.


Felipe M Passero, CFA