Porque as Formas de Investir Estão Mudando (e o que você está ganhando com isto)

Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 28/11/2016

A utilização das tecnologias de forma massiva e a maturidade do mercado fez com que o muro que separava os grandes dos pequenos investidores simplesmente se desintegrasse. Evaporou-se. Sumiu. E hoje todos têm acesso a praticamente os mesmos instrumentos e às mesmas rentabilidades. Entretanto nem todo mundo se deu conta disso. Entenda porque.




Aqui era mar bravo...



O Brasil teve uma situação econômica muito conturbada no século passado. A transição de uma economia predominantemente rural até uma sociedade cada vez mais urbana não foi feita de forma planejada e claro, trouxe consequências. Dá para escrever toda uma biblioteca sobre as causas mas aqui nos interessa um efeito: a hiperinflação. Nossos avós, nossos pais e muitos de nós têm viva na lembrança a marvada. Recordo bem de ver meus pais fazerem a dispensa do mês no supermercado e voltar com o carro cheio até o teto. Isto porque ter dinheiro vivo era péssimo negócio já que os preços eram reajustados semanalmente, quando não diariamente! (nos 70, 80 e 90 cartão de crédito no Brasil era algo distinto e raro). Vários foram os efeitos na economia e na vida das pessoas e empresas. Em geral pessoas, empresas e governo não tinham exata noção do valor das coisas. O mercado financeiro nacional era muito pouco desenvolvido porque uma parcela pequena da população em geral tinha possibilidade de acessá-lo e também por ser muito difícil implantar qualquer novo instrumento.



Com a entrada em vigor do Real, as coisas começaram a entrar nos eixos apesar do ceticismo inicial. Pouco a pouco pode-se ver as coisas com mais realismo e pela primeira vez em décadas atribuir aos produtos, serviços e ao mercado financeiro o seu verdadeiro valor. Em algumas ocasiões descobriu-se que certos negócios não eram rentáveis de forma alguma. Um dos efeitos negativos da entrada do Real foi que, para conter a inflação, fez-se necessário restringir o crédito à economia e assim previnir novos surtos, ainda muito recente na memória e rondando à espreita. Com isso, muitas empresas quebraram ou tiveram que forçosamente fundir-se.




Tudo junto e misturado



Sabe aquela história do "Copo Meio Cheio ou Meio Vazio?" (tem um artigo interessante de Mark Orme Jukes aqui no LinkedIn). A partir da estabilização vinda com o Real isto aplicou-se na prática no Brasil. Muitas empresas quebraram por não saberem (ou poderem) se adaptar às novas possibilidades enquanto outras cresceram e compraram concorrentes. O mesmo ocorreu com o mercado financeiro. A nova situação permitiu a vinda de vários grupos estrangeiros como nunca antes havia sido possível, parte por conta do potencial visto em nosso mercado. Após alguns anos na nova dinâmica iniciou-se um processo de consolidação dos mais fortes. De 1994 até 2008, quando houve a fusão entre Itaú e Unibanco, foram 16 operações entre instituições privadas, além daquelas ocorridas com os bancos estaduais. Até as bolsas viram este processo, com a incorporação da Bolsa do Rio pela BM&F em 2002 e desta pela Bovespa em 2008. Isso fez com que houvesse um número menor de participantes no mercado enquanto a população bancarizada só crescia. Até 2015 eram 86,3 milhões de brasileiros com contas em bancos. O resultado disto é que, um movimento natural de mercado para dar mais solidez às instituições, trouxe um desequilíbrio nas forças de oferta e demanda. O crescente lucro do mercado financeiro, em especial nos bancos, mostra este resultado. Os investidores começaram a contar com um menor número cada vez menor de opções interessantes dentro dos players tradicionais, já que com mais clientes concentrados em cada instituição o esforço por trazer e criar novos e melhores produtos não vale a pena. E as pequenas instituições tiveram mais dificuldades em acessar potenciais clientes já que não dispõem de canais comerciais tão poderosos. Entretanto novos ventos começaram a soprar...




Fintechs e Empresas Especializadas



A mesma tecnologia que permite que bancos tradicionais e corretoras ofereçam mais agilidade e segurança ao seus clientes também permitiu que pequenas empresas lideradas por empreendedores pudessem surgir. Hoje empreender com qualidade e utilizando a tecnologia tornou possível o surgimento de novos negócios atendendo a necessidades específicas de cada cliente. O caso mais emblemático é o Nubank, fintech brasileira premiada que oferece o cada vez mais conhecido cartão de crédito roxo sem custos e mediante convite. Há várias outras dignas de menção como o GuiaBolso, premiado aplicativo de controle financeiro pessoal ou o Poupa Brasil, plataforma para aplicação em RDB que oferece excelentes rentabilidades (105% do CDI para 6 meses até 116% para 48 meses), que assim como o CDB de qualquer instituição, é 100% garantido pelo FGC até R$ 250.000. Tratei no artigo "Alguns Mitos Sobre Investimentos". Se você gosta do seu dinheiro vale a pena conhecer esta e outras alternativas. Recomendo a leitura deste artigo da StartSe. Há ainda várias ferramentas de comparação de fundos, entre elas a da XP, da Verios ou do UOL, ou para avaliar a venda de títulos públicos como a do Tesouro Direto. Também bancos tradicionais já iniciaram este processo de modernização e adaptação com as contas 100% digitais.



Entre as empresas especializadas as corretoras começaram a mudar o escopo de seus serviços. Antes eminentemente voltadas à renda variável (ações, derivativos, debêntures, etc.), começaram a oferecer aos seus clientes outros produtos como seguros, fundos, renda fixa, operações estruturadas, planos de previdência entre tantos outros. Estes novos serviços requerem um investimento pesado em tecnologia, mas as corretoras já contam com expertise tecnológico por conta de sua integração com a Bolsa de Valores e a necessidade de prover aos clientes informações delicadas, valiosas, precisas e em real time. O passo aos novos serviços foi natural, assim como por exemplo Charles Schwab fez nos Estados Unidos desde a década de 60 e com mais intensidade nos anos 80.



Hoje constituem um verdadeiro hub de serviços financeiros, em especial investimentos. Por não contarem com uma rede centralizada de agencias próprias, têm sua força comercial nos escritórios de Agentes Autônomos de Investimento ou Assessores Financeiros. E para serem atrativas frente aos players tradicionais, oferecem produtos de inúmeros emissores a taxas excepcionalmente fantásticas. Como não têm vinculação a um único emissor, os Assessores via corretoras conseguem oferecer soluções à medida de cada cliente. Uma verdadeira boutique de investimentos.




O conhecimento promove a mudança



À medida que os investidores vão conhecendo as novas ferramentas e as novas opções o movimento de especialização vai ganhando força. Há apenas 8 anos no Brasil 98% dos investimentos estava concentrado nos bancos; hoje este percentual é de 95% e reduzindo a cada mês. Nos EUA, por exemplo, 99% dos investimentos são feitos em empresas especializadas. São empresas como a XP Investimentos, que deve terminar o ano com mais de R$ 55 bilhões em ativos, o que a deixaria facilmente entre os 4 ou 5 maiores bancos do Brasil. O segredo do negócio está em ter uma estrutura de custos enxuta, amplitude de opções ao investidor e transparência de informações. O clientes têm privilegiado esta forma de negócios ao modelo antigo mais centralizado nas instituições tradicionais.


O que garante a segurança do cliente são o mesmos mecanismos que atuam nos produtos ofertados pelas instituições bancárias; o fato do mercado ser altamente regulado e seus profissionais fiscalizados. Para assegurar-se do registro de um profissional ou escritório basta acessar a página da CVM e verificar as informarções ali prestadas. A consulta pode ser feita também junto à corretora.


Não faltam opções. Procure, informe-se, negocie e alcance o topo!




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Grande abraço e boa semana!

Denis G Coelho, CFP®