Alguns Mitos Sobre Investimentos

Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 14/11/2016

Existem alguns conceitos básicos sobre investimentos que infelizmente são desconhecidos pela maioria mas que afetam de forma significativa a vida de todos.


Neste artigo vou destacar alguns mitos seguindo uma ordem lógica e simples, a começar pelo...



I) RISCO - A Poupança é o investimento mais seguro (MITO)


Quando falamos de segurança é importante saber que, como tudo na vida, nenhum investimento é livre de risco. Existem escalas de risco, e o mais seguro é emprestar dinheiro para o governo (apesar de soar estranho...). Por quê? Porque la garantía soy yo, eres tú, todos nosotros. Nossos impostos. É exatamente isto que a maioria dos fundos de renda fixa, multimercado e etc. faz para repassar a rentabilidade destes títulos e notas da dívida pública aos seus investidores cotistas. Já na poupança, a garantia é primariamente a instituição na qual o depósito foi feito. Em caso de quebra da instituição, a garantia é o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), instituição privada que serve de colchão do Sistema Financeiro Nacional e que garante até R$ 250.000 por CPF e por instituição financeira em caso de quebra ou liquidação. E falando de FGC, este é o mesmo mecanismo que protege os CDB, RDB, LCI, LCA, LC, LH, LI e dinheiro na conta, ou seja, risco por risco, a poupança é tão segura como qualquer uma destas modalidades de investimento. Então o melhor é deixar o dinheiro em uma grande instituição, porque quanto maior o banco mais difícil quebrar, certo?




II) TAMANHO - Quanto maior a instituição mais seguro estou (MITO)


Não existe uma resposta precisa e de comum acordo a esta afirmação sem ponderar alguns dados. Depende dos olhos de quem e o que se vê. Agencias de risco têm alguns pontos de vista por vezes distintos, entretanto suas avaliações em geral seguem uma mesma tendência. Sem entrar em tecnicismos recomendo que se olhe o Banco Data, serviço que reúne informações sobre saúde financeira, balanços e etc das instituições financeiras. Uma rápida olhada permite identificar que instituições como o Banco GMAC, Banco Mizuho, CCB (bancos desconhecidos do grande público) são tidas por algumas agencias de risco como mais seguras que Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal, os dois gigantes estatais. A lista traz mais surpresas interessantes também desconhecidas do público geral. Entretanto, como por vezes na prática a teoria é outra, façamos um exercício. Temos 2 cenários:


a) Grande banco com R$ 300 bi em ativos quebra.


b) Pequena instituição com R$ 3 bi em ativos quebra.


Em qual há maiores chances de recuperar os depósitos ou investimentos considerando que o Patrimônio do FGC é de cerca de R$ 55,9 bi em setembro/2019 (dado real)? Na quebra ou liquidação de uma instituição menor (b), o FGC cobre completamente (até os limites estabelecidos). Nas vezes em que isto ocorreu, o tempo médio da liquidação ao pagamento foi de 6 meses. No caso de um grande banco (a), o FGC não conseguiria fazer frente à demanda e com toda a certeza o Banco Central teria que intervir e contar com a participação de vários atores (demais bancos, nosso dinheiro via governo, etc.) para garantir que o sistema seguisse funcionando.


Se isto é verdade, por que os bancos menores pagam em geral mais pelas aplicações? Costumam dar vários nomes a isto, mas eu prefiro chamar Poder Comercial. Um banco com 10.000 pontos de atendimento (agencias + PABs + correspondentes) é fisicamente acessível a um contingente gigante de clientes, além do mindshare. Os clientes aplicam por inércia, mesmo que ganhando muito menos (e sem sabê-lo). Algo que um banco pequeno não consegue competir senão pagando mais pelo seu dinheiro.




III) MAIS RENTABILIDADE - Para ganhar mais, tenho então que aplicar num fundo (MITO)


Este tapa-olhos é difícil de tirar. É um mito muito difundido por profissionais com uma tendência a sobre-simplificar uma pergunta com muitas respostas. Algumas coisas devem ser esclarecidas e estabelecidas:


1º Ninguém deveria receber menos que a inflação numa aplicação "segura". Ter uma aplicação que pague menos que a inflação faz você perder poder de compra. A poupança por exemplo pagou menos que a inflação em 2015. É como estar em alto-mar. Abaixo d'água você se afoga, acima você sobrevive.



foto de Tiago Fioreze




2º O mínimo a ser aceito por uma aplicação "segura" é 100% do CDI. O CDI segue de perto a taxa de juros básica da economia (SELIC). Há várias modalidades de títulos da dívida pública que podem ser comprados pelo Tesouro Direto que pagam no mínimo o CDI e podem ser adquiridos a partir de R$ 30. E para isto não é necessário um banco, nem um fundo. Estar por cima do CDI (mais de 100%) garante que você começa a decolar... E com isso o seu patrimônio cresce.



Foto obtida de Symi Greece




Isto posto, só faz sentido aplicar num fundo quando há uma estratégia diferente de seguir o CDI (por exemplo, ações, multimercado) e/ou caso haja uma expectativa de ganho maior que 100% deste, já que o cliente por sua conta e sem intermediação de ninguém consegue melhores rentabilidades. Lógico, não é?


O profissional que auxilia o cliente deve sempre orientar quanto às melhores opções segundo as suas expectativas. Para mais rentabilidade o ideal é, sempre de acordo com o perfil do aplicador, buscar diferentes tipos de aplicações numa mesma carteira. Isto é básico no trabalho de quem assessora o investidor, do contrário, vale a pena o cliente atuar só.




IV) ASSESSORIA DE INVESTIMENTOS é cara (MITO)


Assessoria de investimentos não deve custar nada. Nunca. No banco o cliente conta com o seu Gerente de Relacionamento. Fora dos bancos, Agentes de Investimento vinculados às corretoras desempenham esta função. São também conhecidos como Assessores de Investimentos.


No banco, o gerente vai oferecer os produtos disponíveis dentro daquilo que a instituição comercializa, limitando as opções àquelas oferecidas pela instituição. Nas corretoras, quem o faz é o assessor. As corretoras têm um portfólio muito amplo já que, além de alguns produtos próprios, há os de uma infinidade de emissores, bancos pequenos, médios, grandes, e empresas especializadas como bancos de investimento. Nos bancos as taxas são decrescentes conforme o volume investido. Hoje em dia há corretoras que isentam automaticamente o cliente da maioria das taxas, como por exemplo manutenção de conta, TED, custódia entre outras.


O dinheiro de cada um é muito caro. Vale a pena procurar e buscar opções. Existem, são fáceis e surpreendentes. O mais importante: fuja dos mitos!


Denis G Coelho, CFP®