As Formas de Investir no Tesouro (incluindo aquela que poucos contam e que pode ser a mais divertida)

Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 20/11/2016

Os títulos da dívida pública oferecem o menor risco de calote entre todas as modalidades de investimento por conta da garantia implícita nestes papéis, o Governo Federal ou, melhor dito, a receita dos nossos impostos. Por esta razão, esses papéis são considerados para efeitos práticos como ativos livres de risco, ou risk free (tratei disto no artigo anterior, "Alguns Mitos Sobre Investimentos"). Neste artigo vou comentar as três formas de obter rentabilidade negociando com os papéis da dívida pública, duas delas com o Tesouro Direto.


Mas antes...


Se o título público é livre de risco, por que dizem que paga bons retornos?


Primeiro porque em geral paga. E também porque há uma premissa no mercado financeiro que reza que quanto maior o risco, maior deve ser o retorno. Por isso os títulos da dívida do Brasil pagam mais juros que os títulos da dívida americana, ou Treasury Bonds. Esta diferença (ou spread), varia de acordo com o humor do mercado, ou seja, com a confiança de que o Brasil seja capaz de honrar seus compromissos. Observando a série histórica desde 1994 (ver aqui no site do Ipeadata), ano da entrada em vigor do Real, é possível identificar períodos de grande flutuação, em geral relacionados com instabilidades internas e externas. Como o risco do Brasil não honrar suas dívidas é maior, por exemplo, que o risco do governo americano, as taxas aqui são maiores. Entretanto, quando falamos de títulos da dívida pública negociados em reais para o mercado interno, a dinâmica é um pouco diferente.


Oferecer títulos da dívida pública é um dos instrumentos que o Tesouro Nacional tem para conter a inflação, já que se as taxas são atrativas os investidores tendem a deixar de utilizar seu dinheiro na economia ou aplicando em empresas e passam a comprar estes papéis. Também invariavelmente as taxas oferecidas pelo Tesouro são superiores à inflação corrente. Esta é a forma I.




I) COMPRAR TESOURO DIRETO (e sentar-se no dinheiro)


Valor a investir: a partir de R$ 30,00 / Custo: baixo / Risco: o menor do mercado





É a forma que a grande maioria dos investidores conhece e que quase todos eles praticam, também amplamente divulgada pela imprensa. Basta entrar no site do Tesouro Direto, fazer o cadastro e pronto, já pode começar a comprar e vender. Corretoras e bancos também oferecem esta opção, com a comodidade de poder operar com o saldo da conta-corrente ou de investimentos. Há diferentes modalidades de tarifas. Podemos chamar esta forma de SENTAR NO DINHEIRO, porque sem fazer nada mais depois da compra aguardamos o pagamento dos cupons semestrais / anuais de juros (a rentabilidade) ou o vencimento do título para recuperar o dinheiro investido com a devida correção. Em geral e dependendo da estratégia empregada, consegue-se proteção da inflação e ganhos acima ou próximos ao CDI. Também é possível reinvestir de forma automática os juros na compra de mais papéis, conseguindo o efeito dos juros compostos.



Esta forma também pode ser usada por pais, avós, tios que querem desde cedo fazer uma poupança de verdade para uma criança. Os aportes no investimento são feitos pouco a pouco mediante compras sucessivas de papéis ou partes deste. O Tesouro Direto dá a possibilidade de adquirir os títulos de forma fracionada, ou seja, por décimos do valor total de cada papel, o que facilita a compra. O senão é que aportar pouco a pouco pode trazer dúvidas sobre qual título comprar, não dá flexibilidade na hora de atender a uma emergência e pode-se deparar com um resgate menor que o valor investido (vou explicar lá embaixo no item III). Para evitar isto podemos recorrer a forma II.




II) INVESTIR EM FUNDOS DE RENDA FIXA (e usar muita atenção!!!)


Valor a investir: a partir de R$ 50,00, taxas competitivas entre R$ 1.000,00 - 5.000,00 dependendo da instituição / Custo: muita variação, requer (muita) pesquisa e/ou assessoria / Risco: baixo em geral, dependendo do gestor



É uma das preferências do brasileiro. Segundo as informações da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais que reúne praticamente a toda a indústria financeira do País), há mais de 1,6 trilhões de reais investidos em Fundos de Renda Fixa. Para ser considerado como tal, um fundo deve investir ao menos 80% dos papéis de sua carteira em títulos de renda fixa públicos (como o Tesouro) ou privados. Também o fazem majoritariamente os fundos de Previdência, que respondem por mais R$ 590 bilhões. Estes fundos usam basicamente a estratégia de comprar e vender papéis de dívida. Os gestores destes fundos raramente sentam no dinheiro, ou seja, não esperam o vencimento dos papéis para obter rentabilidade já que devem constantemente ter disponibilidade para os resgates e também para os novos aportes dos investidores. Para facilitar a operacionalização, cada investidor compra um certo número de cotas dos fundos e estas têm o seu valor atualizado diariamente. Cada fundo tem uma política de investimentos e declara sua estratégia em documentos públicos de fácil acesso. Também neste documento se informa a taxas cobradas, e aí está a pega.


As taxas são cobradas para remunerar o gestor em quanto ao trabalho desempenhado. O investidor paga para o gestor tomar conta do seu dinheiro. Nada mais justo, não é? Seria, se não houvesse fundos que cobrassem taxas extremamente altas para fazer um trabalho relativamente simples em termos de estratégia, o que acaba minando a rentabilidade oferecida ao investidor. Na ponta do lápis às vezes um fundo tem uma rentabilidade que mal-e-mal vence a inflação. Isto é recorrente nos fundos mais populares do mercado. Taxas acima de 0,8% a.a. para fundos passivos, ou seja, que apenas seguem o CDI não deveriam ser aceitas pelo investidor. Para obter uma rentabilidade justa e entender o que há detrás de cada instrumento o investidor deve conversar com o gerente do Banco ou o seu Assessor de Investimentos.


Mas há ainda uma terceira forma...




III) USAR O MERCADO PARA OBTER RENTABILIDADE (e ficar feliz por saber que existe mais esta opção, daí a diversão!)


Valor a investir: depende de cada papel, há papéis interessantes com valor próximo a R$ 3.000,00 / Custo: baixo / Risco: Volatilidade




A implantação do Tesouro Direto em 2002 trouxe a possibilidade do investidor pessoa física participar não só do mercado primário, quando o título é lançado pela primeira vez, mas no secundário, quando a negociação é feita entre os detentores dos títulos. Isto trouxe uma liquidez muito grande a este tipo de investimento. E aí vem a oportunidade...



Os analistas vêm indicando que a taxa SELIC tem a tendência de baixar por conta da queda gradual da inflação (ver aqui na Folha, aqui no Estadão, aqui n'O Globo). De fato já podemos ver isto refletido nos juros futuros. Há indicações que ao final de 2018 a SELIC esteja algo abaixo de 10%.


O que ocorre hoje com quem tem papéis do tesouro pré-fixados acima disto? Estes papéis estão se valorizando. Isto já ocorreu no passado recente e vai se repetir agora pois o mecanismo é o mesmo. Se o investidor sentar-se no papel, ou delegar a gestão de seu patrimônio via fundos a um terceiro não vai aproveitar esta possibilidade em sua plenitude.



tabela obtida na página do Tesouro Direto na XP Investimentos


Há vários papéis que podem se beneficiar deste movimento. Em linhas gerais todos aqueles que são parcial ou totalmente pré-fixados. Deve-se observar em dúvidas o vencimento. Mesmo oferecendo o menor risco do mercado (risk free) em quanto ao não pagamento, esta estratégia expõe o investidor à volatilidade, ou seja, o preço dos seus papéis não deve subir de forma linear e segundo o humor do mercado podem haver quedas. É o mesmo mecanismo que age na venda antecipada ao vencimento e que mencionei no item I. Há hoje papéis pré-fixados à venda em taxas superiores àquelas que provavelmente vamos observar no espaço de até 2 anos. Os ganhos podem chegar a ser de até 30% no espaço de 6 meses, vai depender do humor do mercado. Para quem desconhece o mecanismo ou quer mais informação vale a pena falar com o seu Assessor de Investimentos e discutir sobre as melhores opções.




Nenhuma das 3 formas é infalível ou definitiva. Cada uma delas funciona melhor de acordo com o tamanho do bolso e o perfil do investidor. Uma boa assessoria vai contemplar uma carteira diversificada e que atende às necessidades de liquidez de cada cliente. Além disto, as três formas podem ser combinadas. O importante é saber que existem e como funcionam. Lembre-se sempre da diversificação!


Tem dúvidas? Quer dar sugestões para o próximo artigo? Quer dizer que gostou? Deixe aqui seu comentário!


Grande abraço e boa semana!


Denis G Coelho, CFP®