Bonds Soberanos

Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 01/07/2020
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Em recentes conversas com clientes, notei que precisava ser um pouco mais didático à hora de explicar o que são bonds soberanos. São estas coisas que no decorrer do dia-a-dia temos que tomar o cuidado para não cair nos tecnicismos afinal, o Investidor tem normalmente outras prioridades que pouco ou nada tem a ver com as questões técnicas dos investimentos.


Há significados semelhantes (e intercambiáveis) a bonds soberanos, como dívida soberana e risk-free. Este último termo é algo problemático porque leva a entender que são papéis completamente livres de risco, o que não é verdade.


A primeira característica que os coloca numa categoria separada dos demais papéis de renda fixa comuns no mercado de investimentos offshore é que são emitidos por governos nacionais, ou seja, pelo tesouro ou bancos centrais de países.


São a modalidade de dívida pública utilizada para, entre outras coisas, financiar os gastos dos governos nacionais e déficits das contas públicas. Também no Brasil é assim, todos os papéis do Tesouro Nacional são títulos de dívida soberana.


Existem ainda outros tipos de títulos de renda fixa públicos, como os emitidos por governos locais (estados ou municípios). Veja que, embora públicos, estes que não são emitidos por governos centrais não são considerados soberanos. A razão disto é que é possível em alguns países que um ente local (cidade, condado, vilarejo, comarca, etc.) possa eventualmente ser dissolvido ou agrupado com outro entre similar, ente outras coisas, por inviabilidade financeira.


A palavra soberano quando aplicada a bonds, indica títulos públicos de menor risco de crédito dentro de uma economia, ou seja, por definição os últimos a oferecerem possibilidade de calote.


É mais fácil indivíduos ou empresas darem calote, já que sua capacidade de honrar suas dívidas é limitada pela geração de receita. Por isso utiliza-se o termo risk-free para títulos soberanos, mas com conotações um pouco diferentes. Os Investidores de um país consideram os títulos públicos de seu governo “sem risco” já que, em última instância, o emissor pode criar dinheiro para pagar seus déficits. Isto é feito colocando novos títulos no mercado. É exatamente o que o Brasil tem feito nos últimos anos. Entretanto, a falta de controle dos gastos públicos pode levar a uma situação interna insustentável, o que acaba por minar a confiança na capacidade de pagamento da dívida. Nós passamos por isso na década de 80 junto com boa parte da América Latina. Mais recentemente, Grécia e Turquia na Europa e Venezuela e Argentina na América do Sul são exemplos de calote.


Entretanto, quando pensamos no mercado internacional, o termo risk-free é aplicado somente àqueles governos cuja capacidade de pagamento da dívida é elevadíssima. Economias como a Suíça (baixo nível de endividamento e uma das mais conectadas ao mercado global) ou a norte-americana (o dólar é a moeda mais utilizada no mundo como reserva de valor) são tidas como o porto seguro dos investimentos mundiais. Os títulos destas economias tendem a oferecer baixa rentabilidade (baixo risco dispensa pagamento de altas taxas), mas alta liquidez. São duas características muito valorizadas sempre, em especial em mercados nervosos como os que vimos no 1º semestre de 2020.


Em situações normais, os bonds soberanos devem ter taxas sempre mais baixas que os bonds corporativos (ou mesmo de outros entes governamentais não nacionais), já que o baixo risco e o volume fazem com que sejam a escolha ideal para reduzir volatilidade e manter a liquidez.


Denis G Coelho, CFP®