Home-officing (e a chance de uma evolução na vida das pessoas)

Denis G Coelho, LinkedIn, 23/06/2020


Desafios trazem oportunidades de mudança. Se bem aproveitadas, estas mudanças dão saltos de qualidade nas carreiras e vida das pessoas. Todas as pessoas.


Há 5 anos, cansado das 3 horas de trânsito pesado de São Paulo, comprei meu primeiro carro automático. Ganhei conforto e menos cansaço mas ainda assim gastava as mesmas 3 horas diárias em deslocamentos.


Há 4, por conta de um cálculo renal que me obrigou a usar um catéter duplo-J por 45 dias, fiz minha primeira experiência intensiva de home-office, com resultados fantásticos. Mais tempo pôde ser dedicado ao trabalho, à minha esposa (naquela época ainda nossa pequena Julia não tinha vindo), à leitura e à reflexão. Foi nesta época que tomei as decisões mais impactantes na minha vida atual e futura.


Por conta do Covid-19 um experimento em escala mundial está sendo conduzido. Aquelas pessoas que puderam manter-se trabalhando o fizeram maioritariamente desde casa. Empresas que já adotavam o home-office em maior ou menor medida, começaram a notar os benefícios da prática mais estendida.


Home-office é uma daquelas palavras que saem de seu contexto original da língua nativa e passam a ter todo um colorido especial no uso freqüente em outra língua. Na verdade, home office não é uma palavra única, mas um substantivo composto. As traduções poderiam ser escritório de casa, ou escritório em casa. Mas no português do Brasil o transformamos em substantivo, adjetivo, e no que mais nossa imaginação coletiva permitir. Um native english speaker usaria working from home (trabalhando de casa), por exemplo. O título que usei no artigo está provocativamente incorreto.


Estamos certamente no meio de um salto evolutivo no mercado de trabalho. As empresas e profissionais estão notando isso. Como todo salto, haverá ajustes a realizar. Caso os governos não decidam intervir através de regulações, normativas e etc, o que na maioria dos países seguramente vai ocorrer, os ajustes serão rápidos e benéficos.


Como ter tanta segurança sobre isso? Bem, olhemos a história. Toda a história. Desde que nos organizamos nas sociedades mais primitivas, o desenvolvimento de toda tecnologia fez com que tarefas que antes exigiam maior esforço em mão-de-obra passassem e ser realizadas por menos profissionais e em menor tempo. Ainda assim, as populações só fazem aumentar, assim como a quantidade de empregos disponíveis.


Deixando por um momento de lado as características próprias de cada empresa, observemos o seguinte: haverá sem dúvida menor necessidade de escritórios corporativos de tempo integral (menos renda de alugueis para proprietários de imóveis comerciais), possivelmente empresas preferirão alugar espaços para eventos pontuais, como reuniões de equipe (maior demanda por espaços de co-working). O negócio de alimentação, já habituado a uma concorrência elevada e constantes mudanças, deverá ver a demanda por consumo no local diminuir, mas a contra-partida será uma demanda maior por serviços de entrega (aliás, têm visto um aumento considerável de demanda). Lojas físicas podem ser menos demandadas por conta do aumento do comércio eletrônico. Um exemplo pessoal: acabei de reformar meu escritório em casa, e TODOS os móveis foram comprados on-line, assim como boa parte dos materiais usados para as instalações elétricas. E podemos seguir longamente listando as possibilidades que se apresentam.


Embora estas sejam tendências, a mente humana, seja pensado solitariamente ou congregada com outras, é incapaz de prever o que ocorrerá. São tendências, mas o resultado final vai depender do resultado da interação de cada pessoa individualmente. A melhor postura é deixar as coisas se acomodarem por si só, sem intervenções ou tentativas de corrigir este ou aquele desvio.


Cada vez que um político tenta “salvar” o emprego e a renda de pessoas ou categorias que são conhecidas e identificáveis, são capazes de fazer barulho e lobby organizado, empregos e renda de um número muito maior de pessoas que não são identificáveis por conta da complexidade do fenômeno econômico são aniquilados. O livro A Economia do Intervencionismo de Fabio Barbieri é uma aula magnífica sobre a dinâmica danosa das intervenções, que correremos o risco de sofrer.


Aproveitemos a chance para repensar nosso estilo de vida, ganhar mais produtividade, mais qualidade de vida com nossas famílias, aumentar nosso conhecimento e para sermos mais úteis uns aos outros. O primeiro passo: reconhecer que ninguém tem a resposta exata e assumirmos as rédeas de nosso futuro.


Denis G Coelho, CFP®