O Que os Pequenos Devem Saber sobre Dinheiro (e como aprender desde cedo)

Denis G Coelho, LinkedIn, 5/12/2016

As crianças têm uma ideia muito abstrata do que é o dinheiro e sua importância na vida cotidiana. Entretanto, assim como os adultos, seu pequeno mundo é completamente afetado por ele e pelas decisões financeiras tomadas pelos pais. Num País em que cada vez mais se faz notória que a baixa educação financeira da população tem seus terríveis efeitos, cabe repensar como podemos fazer para reverter a situação. Bom, talvez começando em casa...




Os filhos replicam o que fazem os pais



Até aqui nada novo. Filhos seguem o que os pais (ou aqueles a cargo de sua educação) ensinam. Em tudo. Salvo acidentes de percurso, a educação recebida em casa vai determinar em parte a vida adulta. Pais que lêem muito tendem a criar filhos que lêem muito. Pais com bons hábitos alimentares tendem a criar filhos com bons hábitos alimentares. Pais esportistas criam filhos..., bem, adivinhe o quê? Por isso que, ideologias à parte, a estrutura da família tem um papel fundamental na vida adulta do indivíduo. Por que seria diferente com as finanças? A questão principal e que trava o avanço do tema é que, embora muitos pais saibam que tratar da vida financeira é importante, negligenciam na prática fazê-lo. Pode ser por medo, pode ser porque não tenham recebido a educação necessária...


O rico não é aquele que mais tem...


Não são raras as histórias de pessoas que anos após receberem uma grande quantia de dinheiro acabam na miséria. Todo mundo já ouviu histórias de ganhadores da loteria, artistas, herdeiros de grandes patrimônios, vencedores de reality shows, etc.. Às vezes são muitos milhões que em questão de poucos anos (ou meses) se evaporam. Fica claro que a boa educação em quanto ao dinheiro foi o que faltou nestes casos (salvo, como já disse antes, acidentes de percurso).



Há quem defenda que rico não é o que mais tem, mas aquele que gasta menos. Parece lógico. Se os gastos de determinado indivíduo são menores que sua renda e ele protege seu patrimônio investindo com segurança e inteligência, é natural deduzir que ao longo do tempo e beneficiando-se dos juros é capaz de acumular uma boa reserva. Não é nada filosófico, é matemática pura.


Há outras situações em que o ambiente macroeconômico dificulta a gestão dos recursos financeiros. Tratei do tema brevemente no artigo "Porque As Formas de Investir Estão Mudando (e o que você está ganhando com isto)". O Brasil antes da estabilização econômica era um ambiente muito complicado para criar-se uma cultura de educação financeira. Os filhos nos anos 70, 80 e 90 são os pais de hoje. Como ensinar algo que muitos sequer aprendemos em casa?




Dicas para fazer um filho rico


Disciplina e regras são fundamentais. Creio que as pessoas interessadas em educar financeiramente os seus filhos estão em dois grupos e que por vezes se sobrepõem:


Foram bem educadas financeiramente

Não receberam nenhum tipo de educação

Estas dicas abrangem os dois grupos.


Ao nascer - Constituir fundo de reserva em nome da criança


(Esta reserva não deve contar com a participação no futuro da criança e já explico o porquê). As formas são muitas. Pode ser um plano de previdência, podem ser aportes a um fundo de investimentos, compra de títulos do tesouro com vencimentos longos, compras periódicas de ações pagadoras de dividendos, etc. Há uma infinidade de possibilidades para todos os gostos e bolsos. O assessor de investimentos é o melhor profissional para auxiliar aos pais enquanto ao melhor instrumento. O importante é: faça! Muitos de nós nos beneficiamos pelas reservas que de alguma forma nossos pais constituíram em nosso nome. E outros tantos tiveram que dar uma rebolada extra por não contar com uma. Exemplo prático simples: Aportes mensais de R$ 150 numa aplicação ultra-conservadora dão mais de 51 mil reais quando a criança tiver 18 anos (em valores de hoje sem contar inflação e com um rendimento real de 5% a.a.). Eu disse ultra-conservadora. Orientados por um profissional os pais conseguem fazer render com segurança muito mais que isso. Não há porque não fazê-lo.


A partir dos 5 anos - Fazer reserva e ensinar a quantificar o valor



Por volta desta idade muitas crianças sabem contar muito bem, obrigado. Ter alguma forma de que possam guardar um pouco de dinheiro é importante para começar a atribuir-lhe valor. Pode ser um cofrinho físico ou eletrônico, o que vale é começar a fazer pequenas reservas e explicar de onde veio o dinheiro e o que se pode comprar. O importante é jamais preocupar a criança com a origem dos recursos ou a dificuldade em obtê-los, se for este o caso, isto compete exclusivamente aos pais! Cofrinho físico todo mundo entende. O eletrônico pode ser um conta bancária ou de investimentos. Muitas instituições permitem este tipo de operação para menores. Falar de dinheiro e valores, fazer entender o que é caro e barato, além de um exercício por vezes muito bem vindo aos pais, faz com que a criança trate do dinheiro com mais naturalidade e sem os misticismos habituais


A partir dos 10 anos - Acompanhar a reserva futura e seguir com a administração diária do cofrinho



Disse que a criança não deve participar da constituição de sua reserva futura. Mas parece lógico que saiba para que serve, a acompanhe e entenda como funciona. Algumas crianças mais curiosas vão querer saber mais detalhes, outras parecerão mais aborrecidas quando os pais tratarem do tema. Cada família vai ter sua forma de abordar o tema e cada caso é distinto. Para os mais curiosos não seria problema nenhum pôr a criança numa conversa com o assessor de investimentos com a participação dos pais, evidentemente. Para aqueles mais apáticos vale mostrar o que há e aguardar que manifeste mais interesse, se algum dia manifestar. Crianças não são todas iguais, devemos lembrar sempre disto.


Já com relação ao cofrinho, vivemos em um mundo cada vez mais digital. Não adianta querer alienar nossos filhos desta tendência. Tem muitas crianças que dão um banho nos pais neste tema! Vale a pena permitir e orientar quanto a ter contas-corrente eletrônicas e de investimentos para movimentar pequenas quantias, sempre com supervisão. Isto vai permitir que estejam familiarizados com as situações que vão se deparar no futuro.



Os pais podem (e devem) adotar uma política de remuneração para a mesada. O Estado de São Paulo trouxe um artigo faz poucos anos sobre o sistema adotado por uma família e que na época viralizou na internet. A melhor é a multa por "Desobedecer pai ou mãe" de R$ 3,00! Independentemente do sistema adotado, isto ensina responsabilidade. A mesma que os nossos filhos deverão ter na vida adulta. Então por que não ensiná-los em casa? Mesmo em famílias com recursos financeiros abundantes, a responsabilidade com dinheiro deve fazer parte da vida das crianças.




E nada vida adulta?


Quando uma criança foi bem educada e teve desde cedo informações de qualidade sobre o que são as finanças e sua importância na vida diária, as chances de sucesso são grandes. Uma vida financeira bem organizada dá ao adulto a oportunidade de viver plenamente todos os aspectos de sua vida: formação profissional e carreira, projetos, paixões, constituição de nova família, etc.. O mesmo se aplica a qualquer outra faceta da personalidade que vai se construindo com o tempo.


Felizmente os pais podem contar com toda a ajuda e a assessoria que necessitem. O assessor financeiro que orienta na gestão do patrimônio individual ou da família pode auxiliar os pais nesta etapa tão importante da vida.






Tem dúvidas? Quer dar sugestões para o próximo artigo? Quer dizer que gostou? Deixe aqui seu comentário!


Grande abraço e boa semana!


Denis G Coelho, CFP®