PRAZOS E LIQUIDEZ

Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 10/08/2020
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Se existe algo que é extremamente sensível ao tempo são os investimentos no mercado financeiro.


“Juros compostos são oitava maravilha do mundo. Aquele que o compreende ganha, quem não compreende, paga”.


A citação acima é atribuída a ninguém menos que Albert Einsten. Há dúvidas sobre a autenticidade (nenhuma quanto à veracidade) desta afirmação. Mas não quanto à afirmação de Benjamin Franklin, cuja face é ostentada nas notas de 100 dólares:


“Dinheiro faz dinheiro. E o dinheiro que fez o dinheiro, faz dinheiro.”


Esta é explicação mais simples sobre juros compostos que você jamais vai ler. É por esta razão que, sempre que pensamos em investimentos, deveríamos pensar em prazos longos. 2% ao ano depois de 10 anos são 21,9%. 5% ao ano depois de 10 anos são 62,9%. 10% depois de 10 anos são 159,4%. Já deu pra perceber que a progressão é geométrica.

Além do efeito dos juros compostos, há também uma outra questão extremamente afetada pelo prazo. Para obter ganhos verdadeiramente sólidos, é necessário balancear as oportunidades dentro de uma carteira de investimentos. A exceção do prometido nas pirâmides de investimento e demais esquemas Ponzi (ambos esquemas fraudulentos), não é possível ter alta rentabilidade garantida de longo prazo. É necessário correr riscos. Riscos de mercado, riscos de crédito, risco setoriais, e pelo menos mais umas cinco classes de riscos diferentes. É por esta razão que a diversificação de ativos é importantíssima para a busca ganhos, pois permite o equilíbrio entre risco e ganhos, além da mensuração constante de ambos.


O problema com a diversificação é que, para que seus efeitos benéficos possam ser sentidos, é necessário olhar não tão de perto o comportamento dos ativos. A preocupação com a variação do preço dos ativos dia-a-dia pode trazer ansiedades ao Investidor e impedi-lo de fazer uma avaliação correta do comportamento do seu dinheiro.


Quer um exemplo disso? Veja o que o estudo da Fundação Getulio Vargas sobre daytrade constatou. Daytrade é por definição o investimento de prazo mais curto que existe. 91% dos Investidores em daytrade perdem dinheiro.

Não deveria ser feito nenhum investimento pensando no curto prazo. Geralmente, o Investidor quando assim o pensa, está na verdade preocupado com suas necessidades de liquidez, o que é perfeitamente válido. Neste caso, as necessidades de liquidez deveriam estar cobertas por ativos extremamente líquidos e nada voláteis. No caso do mercado brasileiro, o investimento por excelência seria o tesouro Selic, e no caso do mercado americano os fundos Cash Equivalents, que são atrelados às T-Bills (títulos com menos de um ano de prazo) e outros papéis muito líquidos baixo gestão profissional. Não se deve buscar ganhos elevados com os valores da reserva de liquidez.

Para prazos medianos, o Investidor deve sim lançar mão de produtos de renda fixa, que trazem uma certa previsibilidade quanto aos ganhos esperados. Neste caso, renda fixa deve ser utilizada pensando no recebimento dos cupons (juros), e não na negociação dos papéis em si.

Para prazos maiores, a diversificação com diferentes ativos em uma carteira é o mais recomendável. Esses ativos podem incluir ações, títulos de renda fixa, notas estruturadas, ativos imobiliários negociados no mercado financeiro (como FII no Brasil e REITs nos EUA), e etc. Com uma alocação correta, é possível fazer o equilíbrio entre a volatilidade e a expectativa de ganho de todas essas classes de ativos.

Uma carteira de investimentos pode ter papéis que atendam objetivos de curtíssimo, médio e longo prazos, todos combinados. O importante nestes casos é que o Investidor conheça muito bem as suas necessidades. A melhor forma para conhecê-las é, antes de iniciar a alocação de qualquer ativo, ter muito bem definidas quais são as necessidades a ser atendidas pela carteira de investimentos.

As perguntas abaixo, uma vez respondidas, auxiliam bastante aqui o Investidor conheça o quanto pode dedicar a cada prazo:


1) Quais são os meus gastos habituais mensais?

2) Por quanto respondo individualmente no orçamento da família (em %)?

3) Caso troque de emprego / atividade (ou seja demitido), tenho suficiente para 6-12 meses dos meus gastos habituais em ativos muito líquidos (e com baixo risco)?

4) Daqui a quantos anos pretendo me aposentar (ou reduzir o ritmo de trabalho)?

5) Quanto devo acumular para atingir o capital que desejo na aposentadoria?

6) Quais são as fontes que proverão recursos para minha aposentadoria (carteira de investimentos, previdência pública, heranças)?

7) Pretendo adquirir imóveis para uso pessoal? Pretendo fazer investimentos imobiliários?

8) Tenho uma proteção efetiva da minha carteira contra a desvalorização cambial? Quanto tenho dedicado a investimentos offshore?

9) Busco formação constante que me possibilite entender melhor meus ativos financeiros?

10) Levo toda a minha vida (ou experiência) investindo sempre na mesma classe de ativos?

11) Já fui vítima ou me sinto tentado a investir em empreendimentos com promessas de altíssimos rendimentos?

12) Além de minha aposentadoria, quais grandes desembolsos terei no futuro? (casamento de filhos, compra do imóvel da família, etc.)

13) Disponho de instrumentos que me dêem proteção em caso de eventualidades (seguros de vida e invalidez, profissionais, patrimoniais, etc)?

14) Qual estrutura patrimonial é a mais adequada para minha situação (holdings familiares, fundos exclusivos, etc.)

15) Quais profissionais me auxiliam em minha gestão patrimonial? Quais são as suas qualificações?

Estas são perguntas muito básicas e essenciais. Saber respondê-las é conhecer a si mesmo e permite ter objetivos de curto, médio e longo prazo bem ajustados às necessidades.


Denis G Coelho, CFP®