Vale a Pena Investir em Fundos Offshore no Brasil?

Denis G Coelho, CFP®, LinkedIn, 25/08/2020

Parece o cenário perfeito. As taxas de juros estão em níveis historicamente baixos. A inflação parece estar bastante controlada. A bolsa brasileira, que chegou a bater 115.000 pontos, agora fica patinando na casa do 100.000. Aqueles Investidores que sempre olharam com desconfiança ou descrença a possibilidade de investir no exterior, agora passam a enxergar como o momento mais adequado.

Sempre foi importante ter uma boa parcela dos recursos investidos no exterior. Uma recomendação básica para planejamentos financeiros é que algo em torno de 20 a 30% dos recursos acumulados pelo investidor devem estar expostos a ativos offshore, dado que esta costuma ser a exposição mínima aos efeitos cambiais nos gastos de uma família de classe média.

Entretanto, como as taxas de remuneração de investimentos no Brasil ofereciam um bom ganho real, isto é, acima da inflação com “baixo” risco, o Investidor ficava pouco motivado a olhar com mais atenção para a oportunidade de investir fora. Parcela de responsabilidade têm também as grandes empresas de investimento do país (bancos e corretoras): sempre negligenciaram esse tipo de operação, dado que tendiam a ser comercialmente complexas de se executar. Investir em produtos offshore nunca foi algo que pudesse ser oferecido de forma ampla no varejo dos investimentos.

A conjuntura atual mudou completamente o cenário. Mudou foi pouco. Inverteu. Aquilo que antes apenas os profissionais mais qualificados viam claramente com uma necessidade, passou a ser enxergado pelo público geral. Rapidamente os investimentos offshore deixaram de ser um produto de nicho e passaram a entrar nomainstream. Os Investidores agora parecem clamar por diversificação, proteção, maiores ganhos.

O problema de quando um produto entra no mainstream, é que para ser palatável e aceito pelo grande público, deve ser modificado de tal forma que muitas das suas características originais deixam de existir.


O macarrão instantâneo sabor bolonhesa, alimento quintessencial de todo universitário é, num esforço de muito boa vontade, massa italiana. Tanto quanto uma porção de tagliatelle fresco que pode ser comprada nas melhores rostisserias de São Paulo e preparada de forma elaborada em casa, para digamos, um jantar romântico? Ambos são massa. As experiências são completamente diferentes. O esportista de fim-de-semana é tão atleta quanto o campeão olímpico. A bactéria e o lobo guará são ambos, formas de vida. Para que os investimentos offshore sejam distribuídos de forma massificada ao grande público, bancos e corretoras tiveram que transformá-los em pacotes simples de vender, operacionalmente fáceis de acessar, e para isso extirparam destes suas melhores qualidades.


Tributos

Talvez o primeiro ponto a ser considerado é a questão tributária. Ao investir em um fundo internacional dentro da plataforma do banco ou de sua corretora habitual, o Investidor passará a ter o mesmo tratamento tributário de qualquer outro produto que ali tenha. Isso significa que resgates parciais ou mudanças de alocação serão tributadas com uma alíquota de 15% sobre o ganho de capital. A situação é completamente diferente quando o investimento é feito através de uma estrutura internacional que foi pensada e customizada às necessidades do Investidor. Nestas situações, desde que o Investidor não disponibilize o recurso (retire de sua conta de investimentos), não há nenhuma incidência de tributação, o que faz com que sua alocação seja altamente eficiente, e possa alterá-la à medida que novas oportunidades surjam, sem se preocupar com pagar imposto sobre um ganho de capital que efetivamente não foi realizado.


Custos

Outro ponto fundamental diz respeito aos custos. Os fundos internacionais negociados no Brasil têm uma taxa de administração cobrada pela montagem da estrutura pela gestora de investimentos local, ela que disponibiliza o produto na plataforma da corretora. Esta taxa se soma às taxas de administração cobradas pelo fundo originalmente pelo gestor internacional. O Investidor paga muito mais caro, sem poder contar com os benefícios que teria se investisse diretamente nos ativos.


Estabilização custa caro

É sabido que o Investidor local tem aversão à volatilidade, em especial a volatilidade causada pelo câmbio. Uma das vantagens de um investimento internacional é o possível ganho cambial. Entretanto, as oscilações de curto prazo podem tornar o produto pouco palatável para Investidor menos sofisticado. Como remédio a esta situação alguns fundos internacionais negociados localmente dispõem de mecanismos de hedge cambial. O custo de se fazer a proteção cambial pode chegar até 1,5% a.a., valor esse que obviamente é deduzido na rentabilidade final do fundo.


Nem sempre o fundo offshore é offshore...

Uma outra simplificação não compreendida pela maior parte dos Investidores ocorre quando se investe no ativo totalmente brasileiro mas que acompanha os movimentos internacionais, como por exemplo os ETFs locais do S&P500. Não compram uma cesta de ações das empresas americanas para que possam tentar replicar o movimento do índice, mas sim são basicamente comprados em contratos futuros do índice na bolsa local. O risco-Brasil, algo de que todo Investidor procura se proteger parcialmente quando pensa levar parte de seu dinheiro para fora, continua ali.


Quando usar um ou outro

Os fundos podem ser utilizados nos casos em que o Investidor, ciente de que deve diversificar e proteger sua carteira com ativos offshore, prefere a simplicidade acima de tudo. Neste caso, as contas de sua corretora ou banco dão acesso à uma quantidade crescente de opções. Além disso, é possível ver os dados de performance dentro da conta de investimentos, simplificando processos como pagamento de ganho de capital

Para os Investidores mais preocupados em alocar em ativos que conversem com todo o seu planejamento, e que tenha acesso aos profissionais que podem orientá-lo em todo o processo de otimização de investimentos, então a compra do ativo diretamente no exterior, seja através de uma conta PF ou estrutura de investimentos é o indicado. O processo é um pouco mais lento, mas o resultado é o melhor possível, com menores custos finais e que vestem o Investidor à medida.


Denis G Coelho, CFP®